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A Jornada do Marujo: Poema da Morte

Sentia-me só, mas estava acompanhado
Não me sentia de um jeito certo
A maresia não me deixava enjoado
Talvez seria a terra que não estava perto

No inferno o diabo governa
E o deus dos mares era Netuno
Talvez havia uma luta interna
Para governar esse lado do mundo

Pois coisa divina não podia ser
Ficar tanto tempo à deriva
Muitas milhas haviam de ter
Para o local que nos destina

A sede era grande
A fome enlouquecia
Nosso navio range
Nenhuma esperança havia

Como que por decreto
Uma bruma no horizonte
O capitão incerto
Grita um monte:

Vamos marujos, as velas!
Preparem-se para tudo!
Ergam e ajeitem elas
Lá vem nosso purgo!

Preta como carvão
Forte como o mar
Ela vinha forte então
Para nossas vidas tirar

Netuno nos reivindica
Saliva por nossas almas
Nosso medo estica
Aflorando nossos traumas

O Negro grita à Ogum
O loiro suplica à Thor
Futuro não à algum
Não espero o melhor

A chuva cai forte
O navio treme e vibra
Nós esperamos a morte
Aguentem homens de fibra!

Espumas brancas, ferozes
Gosto salgado do fim
O céu sem albatrozes
Indica o nada, pois sim

Casco está a rachar
Velas estão estufadas
Fogo em alto mar
Vidas eliminadas

A embarcação gira
Minha visão embaça
O vento nos atira
Para nossa desgraça

Água, frio
Morte,dor
Sinto arrepio
Sem calor

Escuridão
Desespero
Alucinação?
Barqueiro?

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I’m so high right now.

Imagine um monte. Um monte muito alto, com nuvens no pico, que você mal consegue enxergar. É muito alto, rarefeito, quase tocando Deus. Demoraria eras e mais eras para alcançar o cume. Pois bem, agora se imagine nesse cume. No topo, no meio das nuvens, olhando para os quatro cantos do mundo e vendo tudo que acontece. Você sabe, foram poucos que atingiram tal estágio, poucos que encontraram o monte, muito poucos os que tentaram escalá-lo e muito menos os que atingiram o topo. Mas você está ali, no topo olhando tudo e todos, vendo todas as pessoas do mundo, mas ao mesmo tempo, mais sozinho do que nunca. Só você e uma imensidão, milhas e milhas do puro nada, somente o ambiente e as engrenagens do mundo. Você está acima e vê todos discutindo coisas banais, coisas frívolas, sendo que esse novo mundo é tão maravilhoso, tão rico e cheio de novidades, incontáveis delas.

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Por que vocês não vêem?!

Por que não olham ao seu redor e acima?!

Por que não querem acolhem esse novo mundo?!

Ficam parados e encarando o vazio cotidiano de vocês, onde a maior novidade, a coisa mais interessante do seu dia é o novo tênis, o novo companheiro do amigo, a fofoca alheia…

A vista daqui de cima é tão linda… Um horizonte de novidades se aproxima e vocês tem tanto medo dele…

Se vocês soubessem.

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Cidadão Quem

O teto continuava o mesmo. O mesmo tom de bege, com a textura de grafiato e uma pequena rachadura, ínfima, devia ter um milímetro. Devia se preocupar com isso, mas tinha coisas piores para se preocupar. Não queria se levantar, estava cansado e era uma segunda chuvosa e nublada, típico dia para odiar o mundo. Nos próximos cinco  minutos ele tentou fechar os olhos e morrer, visualizou com toda força possível e imaginável que aquela rachadura abrisse e o teto desabasse em sua cabeça, rapidamente pedaços gigantes cairiam e esmagariam cabeça, pele, ossos, cérebro e alma.

Mas nada aconteceu. Como sempre, aqueles cinco minutos de sono e desejo de morte não funcionaram e o despertador tocou aquele som irritante, estridente, que abalava sua mente e ecoava no seu crânio, um barulho agudo e forte que soava como um sino do inferno, e doía como facadas no seu ânimo. Levantou-se e jogou a coberta no chão, foi arrastando os pés até o banheiro, lentamente, pé ante pé, abriu a porta sanfonada e se pôs defronte ao espelho. Não acendeu a luz, ficou se olhando no escuro, pois ainda eram 5 da manhã, e o sol não havia nascido e as trevas reinavam no ambiente. Pensou muito antes de acender o interruptor, mas por fim adiou o inevitável, apertou a tecla e o ambiente se iluminou, a luz cobrindo o ambiente e ele se viu.

Esse dia estava ruivo.

A pele estava cheia de sardas, e os olhos verdes refletiam mais uma transformação. O cabelo pelo menos era liso, jogado para o lado, uma franja caía em seus olhos, de um forte tom acobreado. Os lábios eram volumosos. “Segunda feira ruivo? Que bosta.” Odiava ser ruivo, era motivo de muitos olhares , meninas hipster que o olhavam e imaginavam nele “o- lenhador-viril-irlandês-que-a-levariam-pra-casa”. Mas era sua maldição, seu encargo. Trocar de rosto todo dia, um rosto belíssimo, sim mas sempre diferente. Não sabia como tudo aquilo havia começado, mas já fazia tempo, desde que se lembrava. Sempre uma cara alternativa, nunca seu velho rosto cheio de marcas de espinhas, cabelo grosso e sobrancelhas grossas. Era horrível, todo dia uma nova história, uma identidade maldita. Quando tinha seu feio cenho, , sempre desejou ter uma bela feição, uma vida melhor e mais interessante, ou uma chance para recomeçar. Ora, que bela justiça poética, hein? O seu desejo se tornou realidade, mas parece que quem escutou  o pedido foi o demônio, alterando e refinando o pedido para ferrar com ele.

O dia começava e sua nova história também, todas as pessoas gostariam de ser belas, de poder mudar sua história, mudar tudo o que não gostavam. E ele tem isso, mas todo dia. Todo fucking dia Ele não podia criar a sua história, não podia criar seus méritos e muito menos pensar no futuro. Efemeridade ao pé da letra, dinamismo escroto de uma vida, a rotina da mudança incontrolável que ele tinha. O bom de tudo isso é que ele não era mais um clichê e vivia um ciclo de interrupções ininterruptas, que mudavam e mudavam ao longo do infinito.

Mas como é infinito se acaba em 24 horas?

-É melhor eu ir trabalhar. – Disse

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Thelema

Eles não me vêem.

Não me sentem.

Fico nas sombras, nada interage comigo. Observo-os em seus movimentos cíclicos, indo e vindo, andando e voltando. Clamando que são diferentes e especias, que são únicos devido ao fato de terem uma tatuagem estúpida com um símbolo estúpido. Eles dizem para os outros que “Essa tatuagem tem um significado especial, é pessoal”. Mas por dentro, gritam “OLHA PRA MIM, COMO SOU DESCOLADO, OLHA, OLHA”. Eles juram ser diferentes daqueles ignorantes que os cercam, mas o pior ignorante é aquele que não sabe disso.

Tolos.

São como um sol num dia frio, encobertos pelas nuvens, pálidos, chatos, só estão ali por imposição do destino, não fariam falta se nunca existissem. Tentam ser engraçados, tentam irritar os outros ignorantes.

Reconheça.

Você é um deles.

Julga todos, mas nunca se julga, pois se o fizer, seu fraco alicerce de sapiência vai desmoronar, e você vai se ver no mundo cinza, no meio de muitos, mais um na manada.

Um simples.

Eu?

Eu sou você, o seu “eu” real. Aquele que você sufoca todos os dias, das 8 ás 23, aquele que você mata apenas para agradar os outros. Aquele seu íntimo, no mais intimo, que só aparece quando sonha, quando está sozinho, acuado e triste.

Estarei sempre aqui.

Vou aparecer quando você se julgar, quando seu alicerce desmoronar, quando tudo estiver por um fio. Aí eu apareço, como o seu real mentor, seu único amigo.

Será o melhor dia da sua vida.

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O bule mais importante do universo

Jardins da Casa Branca, 3 da manhã, Washington D.C, EUA. Uma multidão de pessoas aguarda ansiosamente a chegada anunciada a dois dias antes, algo que movimentou o mundo e fez milhares de pessoas entrarem em êxtase, pânico, alegria e/ou desespero. Deus apareceu em pronunciamento mundial. Todas as telas de smartphones, TV’s e computadores apresentaram a imagem de uma forma nebulosa em um trono dourado. disse que responderia perguntas dos terráqueos e que deixava a organização para os seres humanos organizarem o evento.

Pois bem.

Chineses exigiram que fosse feito no maior teatro do mundo, que fica na China. Europeus pediram que fosse no Vaticano, pois lá é onde fica o representante de Deus na Terra. Muçulmanos queriam que fosse na Meca, mas como tudo no mundo, o americanos decidiram que fosse na Casa Branca.

Na hora marcada, uma luz muito brilhante veio descendo do céu e para no palco, se aproxima do trono de ouro e começa a se transformar e ganhar forma… de um bule. sim um bule. Com um headphone.

Falta um headphone, então imagine.

– Bom, estou aqui para, responder as perguntas dos, err… quem mesmo? Ah sim, terráqueos… Vocês tem cinco minutos. Cinco minutos terráqueos, claro, pois se fossem cinco minutos meus, vocês aqui virariam pó.

Mesmo com uma ordem pré estabelecida por sorteio, uma algazarra foi formada. Pessoas levantando a mão, gritando, pedindo o direito de pergunta. Deus estranhou tudo aquilo e escolheu um repórter chinês para a pergunta. Zho Cheng sorriu nervoso e se dirigiu ao púlpito, respirou fundo e perguntou:

– Por que a forma de bule santidade?

-Sério? Essa é a pergunta ? Você tem a oportunidade de me perguntar sobre tantas coisas, e quer saber o porquê da minha forma ? – Disse, irritado. – Assumi essa forma pois se fosse um velho, vocês achariam que eu seria o Deus judeu/cristão, se fosse negro, diriam que sou Alá e que o Jim Carey já me conhecia. Pra evitar a fadiga, escolhi um bule. Próxima pergunta !

-Qual a teoria está certa, a da evolução ou criação? – Perguntou uma autoridade inglesa.

-Teoria? Só um momento – Deus ficou em silêncio uns instantes e respondeu – Ah sim, bom eu não fui responsável direto, eu digamos “terceirizei” o serviço. Ô Javash, qual o método utilizado pra esse planeta aqui ? Ah sim, ok. Bom, nós utilizamos as duas técnicas. Próxima pergunta !

– Mas Senhor como… – repetiu o inglês.

-Três minutos !

-Para onde vamos depois de morrer? – Perguntou um brasileiro.

-Isso eu não posso contar, é algo que vocês só podem saber depois de morrer. É  algo inerente a toda criação e desenvolvimento de vocês como seres racionais. Próxima.

-Qual o sentido da vida ? Por que estamos aqui?- Disse o Paquistanês.

– E por que vocês precisam de um sentido ? – Deus disse irritado – Vocês tem um planeta pra cuidar e ficam se preocupando com algo que já foi explicado desde o começo, mas praticar é diferente não é ? Vocês são estranhos nesse sentido, acham que só o fato de existitirem merece uma explicação. Qual o motivo disso? Vocês já sabem qual o sentido, não sou eu que devo explicar. Achem sozinhos.

– Mas Senhor, existem no mínimo uns 1500 sentidos pra vida… – Retrucou o paquistanês.

-Acho que vocês são os seres mais carentes do universo. Me pedem ajuda pra passar em um teste de matemática, enquanto isso, a 500 anos luz daqui, uma galáxia está sendo destruída por um buraco negro em expansão, mas nenhum dos 3 trilhões de seres que moram pedem uma intervenção divina. Aprendam: Eu já fiz minha parte por vocês, não iria ficar aqui eternamente, só lhes dei o dom da vida, agora se virem. Destruam-se ou amem-se, é de vocês a escolha. Já tentei fazer vocês lutarem, se amarem, já destruí, já criei e agora é com vocês. Acreditem no seu potencial, e façam um favor. Me esqueçam! Não precisam me amar tanto e sim amar uns aos outros. Boa noite.

O bule ascendeu aos céus, e nunca mais foi visto.

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Carta ao autor

Olá,

Creio que de alguma forma, você já saiba o contexto dessa carta. Aliás, você já deve ter escrito que depois de um banho eu teria uma epifania sobre a minha vida ser um péssimo roteiro de um filme ou um livro incompleto e que nesse exato momento eu estaria escrevendo essa carta.

É foda.

 

escritor-personagem

 

Provavelmente eu esteja com alguma patologia psicótica (provavelmente esquizofrenia). Mas eu preciso falar cara, você é um péssimo autor. Que merda é essa que você está fazendo cara?

Não, sério.

Você empacou no texto? Você está num bloqueio criativo? Poxa cara, você nunca foi muito criativo, (aquela porcaria de saga do primeiro estágio foi horrível, mas tinha personagens interessantes) mas teve seus momentos bons. E agora, escreve minha história de todo dia, ficar no Facebook, ir pra academia e ficar filosofando? É isso cara? Só isso? Você pode fazer melhor, precisa colocar um ponto de virada aí, algo surreal, que me faça ter umas epifanias melhores que essa. Eu e você sabemos que assim que eu terminar esse texto eu vou dormir e esquecer tudo isso, e voltarei a minha vida normal. Os atributos de inércia e “marmotice” que você pôs em mim são bens marcantes, que eu preciso de um fator externo pra avançar nessa vida (O último que você fez só fez piorar as coisas, e muito).

Então pense papai, e que seja algo positivo, por favor. Nada de mortes.

Bom é isso, vou dormir, espero que você leia e pense nisso pra página de amanhã.

P.S.: Cara, seja mais explicito, não quero sinais rasos, quero uma placa dizendo “FAÇA ISSO’

P.P.S: Tem como diminuir meus atributos de “Carência” e “Necessidade de chamar atenção”?

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Carta de um suicida

“Escrevo essa carta na esperança de que você leia e não me julgue, afinal eu não preciso que mais pessoas apontem meus erros e me critiquem por minhas escolhas. Eu acerto e erro como todo o ser vivo que viveu, vive e viverá nesse imundo planeta. Eu desisto da minha vida pois não tenho esse instinto predatório e cínico que é preciso ter para viver nessa sociedade sórdida e maldita. Posso ser considerado fraco, inútil e a vergonha da família, sim, mas eu não sou hipócrita para sorrir apenas para parecer vivo. Termino com a minha vida pois não tenho saída, não tenho vontade  e não quero viver mais um dia de tristeza, solidão, medo e ódio. Só peço desculpas a minha mãe, apenas a ela. Ela fez de tudo que esteve ao seu alcance para me criar… Mas agora se decepcionará comigo mais uma vez… Desculpe mãe!”

Com os pés descalços ele sentia o frio do piso, que subia por suas pernas e atingia seu coração, que estava mais frio ainda. Leu e releu carta mais uma vez e a deixou em cima da tampa do assento do vaso sanitário e se encarou no espelho. Nesses últimas semanas suas olheiras e rugas aumentaram e muito, era estranho como o sofrimento mudava a aparência de alguém, algo que não é palpável e visível como um tumor, mas que cresce e prejudica tanto quanto. Suas lágrimas nem caiam mais, secaram como seu coração e alma que esvaíram-se do seu corpo a muito tempo. A decisão já foi tomada e não há volta, ele a manteria ao contrário de muitas outras.  Ele  agarrou o pote com os medicamentos tarja preta e engoliu umas 5 pílulas de uma vez, em seguida deitou-se na banheira com água quente e cortou seus pulsos e fechou os olhos, o agradável calor subiu e tomou conta de seu corpo, um relaxamento extremo como se estivesse deitado numa nuvem. O quente abraço da morte o alcançou e esperou sua hora.

 

Seu momento.

Mas ele nunca chegou.

Abriu os olhos e viu uma luz forte, esperou seus olhos se acostumarem e encontrou-se numa cama de hospital. O lençol tocava-o em cima e embaixo de seu corpo, o tecido leve e desagradável. Notou o cheiro de hospital, o cheiro característico de dor, sangue, substâncias químicas e morte, o doce cheiro que incomoda todos, que infiltra-se nas narinas e se espalha pelo corpo, causando a amarga sensação de sofrimento. O quarto era sóbrio e claro , com camas de metal e muitas estantes, que continham ampolas e diversos remédios com nomes complicados. Sua mãe estava ao seu lado, segurando sua mão e dormindo numa cadeira . Foi tudo repentino, mas notou que seu plano de se matar não deu certo. Estava vivo e bem.

Seria uma derrota ou uma vitória?

Antes de se decidir, suas pálpebras pesaram e seu corpo relaxou, o doce sono o aqueceu e o tirou daquela terra de dor e medo.

Acordou mas não abriu os olhos, o odor entrou em suas narinas primeiro, ouviu vozes, barulhos tilintantes de instrumentos metálicos, bips de máquinas e gemidos de dor. Ainda estava no hospital, notou o mesmo cheiro e a mesma sensação do outro despertar, mas dessa vez teve que se levantar. O dia já havia nascido e banhava de sol o seu quarto, forçou-se a olhar a janela e viu o céu num azul límpido, sem nuvens, um lindo dia.

 

-FILHO ! – Ouviu o grito de sua mãe, ela veio correndo e parou na sua frente. Ambos se encararam, uma amálgama de sentimentos passavam pelos olhos da sua mãe.Felicidade sim, era o principal, mas também havia tristeza, raiva, decepção e desespero naqueles olhos negros, negros e vermelhos, negros vermelhos e inchados como se ela tivesse chorado todas as lágrimas possíveis que uma mãe pode chorar pela apreensão da morte do filho. Seu cabelo era negro e estava desalinhado, já possuía os fios grisalhos que acusavam os seus 59 anos de idade. A pele desmentia a idade, era firme e lisa, com poucas rugas e num lindo tom de oliva. Jamais deveria ter passado pelo que passou, apenas a possibilidade de perder um filho era injusta para uma pessoa como ela, imagine então, ter um filho suicida.

-Mãe, por favor me perdoa. Eu não sou e nunca fui um bom filho pra você, o que eu fiz foi algo extremamente egoísta… Me perdoa por favor.

E ajoelhou-se diante dela,  lágrimas escorriam e o desespero de novo corroía seu coração. A dor era maior do que as cicatrizes e chagas deixadas pela tentativa de morte. Agarrou os joelhos dela como se fosse um tronco e ele estivesse num rio de forte correnteza.

-Não falaremos disso filho, agora não. Por favor. – Disse ela, secamente. Pôs as mãos nos ombros dele, deu um sorriso triste levantou-se e virou de costas. Ficou parada ali por uns instantes e disse. “- Estava procurando alguma coisa pra comer e recebi a noticia de que você tinha acordado, vim te ver… Bom agora vou procurar alguma coisa para nós comermos.” E saiu sem olhar pra trás.

Era óbvio que ela não estava bem. Estava desmoronando, já não bastasse todo o sofrimento do marido assassinado, 2 abortos e desempregada, ainda tinha um filho com tendências suicidas. Era demais para qualquer ser humano, mas ela é uma deusa, e deusas não podem se abalar.

“Seria melhor dar um tempo para ela, deixar ela sozinha, por enquanto” Pensou. Nesse momento começou a andar pelo corredor onde estava, notou que estava perto da maternidade.

Que Ironia.

 

Um suicida internado perto de onde a vida surge . Era tão ridículo que ele teve que rir, não podia ser coincidência, o médico que o tratou escolheu com certeza aquele quarto de propósito, por ser o mais próximo dos bebês. Aproximou-se lentamente da janela para ver os pequenos, por mais que odiasse crianças, elas agora exerciam um magnetismo nele, o chamavam silenciosamente… Convidando-o para ver a dádiva de recém nascidos.  Ele olhou pela janela e viu dezenas de pequenos seres chorando, dormindo, rindo, todos eles em pequenas caixas e enrolados em roupas azuis e rosas. Aqueles pequenos homens e mulheres, trazidos ao mundo para sonharem com astronautas e princesas, e acabarem como tatuadores ou Atendentes de telemarketing. Terem seus desejos esmagados pela sociedade vil, e não terem outra escolha a não ser engolir o o choro , abaixar a cabeça e seguir rumo a morte. Algo chamou a atenção, havia outra sala no fundo do berçário, que continham algumas outras caixas com bebês, caixas de vidro enormes, onde minúsculos bebês eram cercados por tubos e sondas, ligados a máquinas que os mantinham vivos.

Essa era a pior ironia de todas.

Da qual ele não teve coragem de rir.

Aqueles eram bebês prematuros, humanos que tinham tanta vontade de ver o mundo que nasceram antes do tempo e que agora lutavam pelo direito de vida. Algo que ele quis deliberadamente acabar, tão precioso para aquelas pequenas almas e ele descartou como algo fútil.

Sentiu o baque.

Atingiu-o como uma bola de canhão, bem no peito. Bum. E os ferimentos não jorravam sangue, e sim melancolia. A tristeza nunca o acertou como naquele instante, de repente tudo fazia sentido, mas ao mesmo todas as coisas não tinham absolutamente nenhum significado. Uma quantidade de sensações ruins preencheram seu corpo, virou-se e encostou na parede, sentindo o frio contra suas costas, ele foi desabando em amargura, tecendo lágrimas quentes e com o gosto do sal, o elemento que exorciza seus demônios. Não podia ficar ali, tinha que correr, não aguentaria nem mais um simples momento naquele hospital, era grande o peso do mundo e de suas péssimas decisões sobre seus ombros. O medo de viver batia a porta de seu coração, aquela angústia de que nunca nada ia dar certo ameaçava voltar à tona. Agarrando os joelhos e com a cabeça entre as pernas, queria que o mundo acabasse ali.

Mas não acabou.

Ele não acreditava em milagres, já tinha desistido de Deus e qualquer religião há muito tempo, mas bem em sua frente, estava um anjo.

Um anjo de luz.

Com feições tão belas como se fosse possível, o anjo possuía um sorriso branco como um colar de nuvens num céu de verão, maçãs do rosto vermelhas e salientes,  olhos negros e sorridentes, brilhantes e seu cabelo dourado como as portões do paraíso. O anjo se agachou e se aproximou, e nesse momento, ele se envolveu com a fragrância sagrada que o anjo transmitia.

Um cheiro de cigarro mentolado.

Nesse minimo instante, ele acordou do transe e viu a pessoa a sua frente. Não era um anjo, era apenas uma mulher. Com um sorriso triste ela o encarou:

-Eu falaria pra você não chorar, mas provavelmente você deve estar cheio de lhe falarem isso, então é melhor chorar. E tem que ser por um bom motivo.

-Acabo de ver como eu sou hipócrita e egoísta… Eu não mereço a vida.

-Talvez sim, talvez não. Nunca vai saber… Resta apenas viver e tentar aproveitar ao máximo que se pode. A vida não é um dom ou maldição, a vida é apenas o que é: a vida.

Ela tinha razão. Mesmo não sendo o anjo que ele viu da primeira vez, suas palavras eram arrebatadoras como se fossem proferidas por um enviado de Deus. Ele reparou em seu rosto, bonito, porém triste. Talvez  tivesse passado por muitas provações nas últimas semanas, como se um anjo tivesse lutado em uma guerra contra a própria morte.

-Venha, quero te mostrar uma coisa.

Ela agarrou sua mão e o levou para dentro do berçário, atravessou a sala até onde os bebês prematuros estavam. O levou até a frente de uma caixa, onde um dormia a sono profundo.

-Esse é meu filho. Lindo não?

Não sabia o que falar, o anjo era mãe de um bebê prematuro.

-Sim, lindo!

-Ele já me enche de orgulho. Mesmo sendo de uma gestação dificil, lutou fortemente contra todos os problemas que surgiram. Mesmo tendo que nascer antes do tempo, se agarrou a vida e nunca deixou ela sair perto dele. E foi recompensado com uma mãe que percebeu o quanto a vida é maravilhosa, e que vai fazer de tudo para ajudá-lo.

Ele sorriu, e percebeu o sinal. Seja de Deus, Buda ou do universo, ele entendeu o que precisava fazer.

Apenas lutar.

 

 

 

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Espelhos

Quem é você?

 

 

Olhamos e não enxergamos

Apenas olhamos e vemos

Tiramos fotos,  não lembramos

Apenas recordamos quando vemos

 

Acreditamos e aceitamos, cremos

Não contestamos, ou cansamos?

Não, nos entregamos.

E aqui encontramo-nos .

 

Apenas invejamos

E nos embelezamos

Só falsificamos

 

O belo nós mudamos

O incrível nós trocamos

E no fim, criticamos.

 

 

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Medo

Sr Euclides estava sentado em frente de sua humilde casa na Avenida São João, a duas quadras do Largo Paiçandu. Ele lia a Folha de São Paulo de 1987, sendo que o ano vigente era 2009, ele havia dito ao repórter do Jornal Cabreúva de que espera notícias boas e jurava que umas duas vezes, as noticias do Jornal mudaram. O repórter riu e mudou a legenda da matéria na TV de “personagens Clássicos de SP” para “O drama do Alzheimer”. Nosso velhinho aguardava a notícia que Paulo Maluf assumiria o comando do exército e daria um novo golpe militar, mudasse o nome do Brasil para Argentina do Norte  e aprovasse a Eugenia, mas para nosso alívio, tal notícia não veio,

Cansado de ver sua lindíssima avenida ser ocupada por nigerianos traficantes e somalis vendedores de relógios falsos, ele se retirou para a residência,  resolveu que e deveria arrumar a estante da sala que estava torta a cinco anos. Entrou no pequeno cômodo, pequeno,escuro e cheirando a mofo,  decoração estilo “Avant-Garde-Batman-Caverne” revistas velhas empilhadas no chão, um sofá vinho antiquíssimo e uma estante pênsil à esquerda com alguns exemplares da enciclopédia Barsa que serviam de calço a estante. Ele foi até a mala de ferramentas e pegou um martelo, cinco pregos e… e… o quê mesmo? O ancião havia esquecido o quarto elemento para concertar a estante, mas como eu sou um autor benevolente instaurei uma lembrança de um pedaço de madeira que iria servir como o pé da estante. O velho anda até o quintal atrás de sua micro casa e encontra o pé da estante, parado e esperando seu destino. Estante. Pé.

Mas um detalhe não passou despercebido por Eucli, um detalhe que faz toda a diferença.

Uma panela de pressão.

“A” panela de pressão.

O seu maior medo.

Aquela panela estava presente na morte de sua esposa Vera, estava presente no dia que seu filho Iraquetan partiu para a Guerra do Sultanato de Papua Nova Guiné e na morte de seu cão fantasma, Rufus Sétimo. Cada desgraça, cada coisa ruim, sempre que alguma coisa acontecia, ela estava lá. Encarando-o, e com certeza rindo da desgraça de Euclides. Por três poportunidades ele a havia jogado fora, três vezes ela havia voltado.

Ele rodeou a panela, para se aproximar e tentar pega-lá de surpresa tropeçou no velho trombone de prata que jazia ali a anos. O barulho despertou a P.P (Panela de pressão, chamarei-a assim devido a preguiça). P.P levitou no ar e começou a juntar peças que estavam jogadas no quintal revistas, entulhos, sacos de lixos e uma força invisivel conectou todos os lixos a PP(inclusive o trombone), transformando-a numa espécie de golem.

Era chegada a hora Euclides.

Ele pronunciou as cinco palavras proibidas e  evocou o Dragão Branco de Olhos Azuis. Eis que surge um dragão branco de 5 metros de altura na sua frente, deu um rugido ensurdecedor e esticou suas asas com uma enorme envergadura.

O Golem invocou Agumon-Vegeta. Um Dragão de Komodo amarelo de cinco metros de altura, mas com o rosto humano

-Dragão, Choque do Trovão ! – Disse Euclides

O Monstro emitiu de sua boca um relâmpago azul.

-Agumon, ataque com Leigun ! – Ordenou o Golem

Disparou de sua mão um pilar de energia branca.

Ambos poderes se chocaram com uma força megalomaníaca, Sr. Euclides foi arremessado com muita força no chão. Mas ele viu as ondas de energia lutando, enrolando, embatendo. Fagulhas azuis e brancas voavam dos poderes, atingindo o chão e criando crateras to tamanho de toranjas. mas o Leigun venceu o embate.

O Dragão de Olhos Azuis a.k.a Epaminondas recebeu o golpe, mas manteve-se de pé e dessa vez atacou sem receber a ordem de Euclides, usou o golpe Fus-Ro-Dah de Fogo.  O Golem, desesperado, não soube o que fazer e Agumon-Vegeta recebeu o golpe, que foi !00% efetivo.

-Você combate bem, P.P- Disse o velho.

-Cale-se, e dê seu último golpe !

-Epaminondas, golpe Tesouro de Mirra!

-Agumon, atinga-o com Entardecer em Acapulco !

Era uma luta sem igual, poderes disputando polegada por polegada o espaço para atingir seu inimigo, uma amalgama de cores se fundindo e separando-se a cada milissegundo, porém dessa vez a disparidade era grande e o mais forte obliterou o mais fraco.

O poder definitivo.

O monstro caiu no chão desacordado.

Fim

Euclides abriu os olhos e estava deitado numa cama de hospital, dentro de um quarto totalmente branco. Uma enfermeira ruiva de meia idade e com olheiras  encarou e bufou, pegou uma injeção de uma mesa a sua esquerda e aplicou no braço de Euclides.

Euclides fechou os olhos e sonhou que era um vaga-lume co uma bazuca.

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Eu te conheço?

Você pode respirar embaixo d’água?

você suporta a dor da morte?

Você já caiu no poço do mundo?

Chorou a partida de um amor?

Acreditou no diabo?

Acreditou em Deus?

Nenhuma.

Quem é vocÊ?

Quem é você?

 

Eu sei quem você é… sei que observa os padrões da vida que rolam 24 horas por dia. E veja, você sabe que as pessoas são todas desesperadas por serem reconhecidas, que fazem coisas impossíveis por uns “Curtir”, afinal você também era assim. Tinha uma opinião formada sobre ABSOLUTAMENTE qualquer coisa, gostava de interagir com todos, queria que olhassem pra você e pensassem: “Porra, esse é o cara!”…

Só que nada disso aconteceu.

Nada.

Tudo que você fazia, e implorava, virava vento para aquelas pessoas.

Pessoas.

Olha, sinto te informar, mas como podem ser pessoas, se você nunca esteve com elas?

Todas aquelas festas, tatuagens, animais, poses, bebidas… Como aquilo pode ser real? Você viu? Tocou?

E você simplesmente sorri e vê que aquilo era uma corrente, não uma corrente… hum… melhor um ciclo.

Você–>Subfamosos<–>Superfamosos

No qual você nunca estava.

Acordou, e se tocou que aquilo era um pantomina, uma linda volta de lambeção de cú, no qual eles se lambem, e você se masturba, MAS NÃO TOQUE, SEU PERVERTIDO.

Você agora é morno, médio… um 50%. Não quer se destacar, afinal se destacar não significa nada, pois uma bosta florescente no meio da merda, continua sendo merda. Apenas vê a matilha passar, eles se esgoelando por coisas que eram tudo pra você, e hoje não passam de vento.

Você é o vento.

Ou água.

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