Sentia-me só, mas estava acompanhado
Não me sentia de um jeito certo
A maresia não me deixava enjoado
Talvez seria a terra que não estava perto
No inferno o diabo governa
E o deus dos mares era Netuno
Talvez havia uma luta interna
Para governar esse lado do mundo
Pois coisa divina não podia ser
Ficar tanto tempo à deriva
Muitas milhas haviam de ter
Para o local que nos destina
A sede era grande
A fome enlouquecia
Nosso navio range
Nenhuma esperança havia
Como que por decreto
Uma bruma no horizonte
O capitão incerto
Grita um monte:
Vamos marujos, as velas!
Preparem-se para tudo!
Ergam e ajeitem elas
Lá vem nosso purgo!
Preta como carvão
Forte como o mar
Ela vinha forte então
Para nossas vidas tirar
Netuno nos reivindica
Saliva por nossas almas
Nosso medo estica
Aflorando nossos traumas
O Negro grita à Ogum
O loiro suplica à Thor
Futuro não à algum
Não espero o melhor
A chuva cai forte
O navio treme e vibra
Nós esperamos a morte
Aguentem homens de fibra!
Espumas brancas, ferozes
Gosto salgado do fim
O céu sem albatrozes
Indica o nada, pois sim
Casco está a rachar
Velas estão estufadas
Fogo em alto mar
Vidas eliminadas
A embarcação gira
Minha visão embaça
O vento nos atira
Para nossa desgraça
Água, frio
Morte,dor
Sinto arrepio
Sem calor
Escuridão
Desespero
Alucinação?
Barqueiro?