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O natural é anormal.

Há os anjos e os demônios que nos falam incessantes, sobre a moral e o prazer. Qual devemos seguir? A moral foi inventada por nós. O prazer, está conosco desde o útero. Essa é a resposta. Como pode algo tão divino, prazeroso e natural, ser tão imoral? Algo que está desde de todo o sempre, algo que nosso sistema é biologicamente preparado, ser condenado apenas por nós.

O Deus não deveria se materializar no natural? No físico? Em algo que já nascemos com? Pense! Um livro, ou papiro, ou ainda as autoridades nos dizem para não fazer, porém nosso próprio corpo pede e anseia isso. Não é hipocrisia, confiar tanto em substantivos e deixar nossa psique insatisfeita?

Pois vá! Faça aquilo que tem vontade! Esqueça os limites e padrões pré estabelecidos!

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Cidadão Quem

O teto continuava o mesmo. O mesmo tom de bege, com a textura de grafiato e uma pequena rachadura, ínfima, devia ter um milímetro. Devia se preocupar com isso, mas tinha coisas piores para se preocupar. Não queria se levantar, estava cansado e era uma segunda chuvosa e nublada, típico dia para odiar o mundo. Nos próximos cinco  minutos ele tentou fechar os olhos e morrer, visualizou com toda força possível e imaginável que aquela rachadura abrisse e o teto desabasse em sua cabeça, rapidamente pedaços gigantes cairiam e esmagariam cabeça, pele, ossos, cérebro e alma.

Mas nada aconteceu. Como sempre, aqueles cinco minutos de sono e desejo de morte não funcionaram e o despertador tocou aquele som irritante, estridente, que abalava sua mente e ecoava no seu crânio, um barulho agudo e forte que soava como um sino do inferno, e doía como facadas no seu ânimo. Levantou-se e jogou a coberta no chão, foi arrastando os pés até o banheiro, lentamente, pé ante pé, abriu a porta sanfonada e se pôs defronte ao espelho. Não acendeu a luz, ficou se olhando no escuro, pois ainda eram 5 da manhã, e o sol não havia nascido e as trevas reinavam no ambiente. Pensou muito antes de acender o interruptor, mas por fim adiou o inevitável, apertou a tecla e o ambiente se iluminou, a luz cobrindo o ambiente e ele se viu.

Esse dia estava ruivo.

A pele estava cheia de sardas, e os olhos verdes refletiam mais uma transformação. O cabelo pelo menos era liso, jogado para o lado, uma franja caía em seus olhos, de um forte tom acobreado. Os lábios eram volumosos. “Segunda feira ruivo? Que bosta.” Odiava ser ruivo, era motivo de muitos olhares , meninas hipster que o olhavam e imaginavam nele “o- lenhador-viril-irlandês-que-a-levariam-pra-casa”. Mas era sua maldição, seu encargo. Trocar de rosto todo dia, um rosto belíssimo, sim mas sempre diferente. Não sabia como tudo aquilo havia começado, mas já fazia tempo, desde que se lembrava. Sempre uma cara alternativa, nunca seu velho rosto cheio de marcas de espinhas, cabelo grosso e sobrancelhas grossas. Era horrível, todo dia uma nova história, uma identidade maldita. Quando tinha seu feio cenho, , sempre desejou ter uma bela feição, uma vida melhor e mais interessante, ou uma chance para recomeçar. Ora, que bela justiça poética, hein? O seu desejo se tornou realidade, mas parece que quem escutou  o pedido foi o demônio, alterando e refinando o pedido para ferrar com ele.

O dia começava e sua nova história também, todas as pessoas gostariam de ser belas, de poder mudar sua história, mudar tudo o que não gostavam. E ele tem isso, mas todo dia. Todo fucking dia Ele não podia criar a sua história, não podia criar seus méritos e muito menos pensar no futuro. Efemeridade ao pé da letra, dinamismo escroto de uma vida, a rotina da mudança incontrolável que ele tinha. O bom de tudo isso é que ele não era mais um clichê e vivia um ciclo de interrupções ininterruptas, que mudavam e mudavam ao longo do infinito.

Mas como é infinito se acaba em 24 horas?

-É melhor eu ir trabalhar. – Disse

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O bule mais importante do universo

Jardins da Casa Branca, 3 da manhã, Washington D.C, EUA. Uma multidão de pessoas aguarda ansiosamente a chegada anunciada a dois dias antes, algo que movimentou o mundo e fez milhares de pessoas entrarem em êxtase, pânico, alegria e/ou desespero. Deus apareceu em pronunciamento mundial. Todas as telas de smartphones, TV’s e computadores apresentaram a imagem de uma forma nebulosa em um trono dourado. disse que responderia perguntas dos terráqueos e que deixava a organização para os seres humanos organizarem o evento.

Pois bem.

Chineses exigiram que fosse feito no maior teatro do mundo, que fica na China. Europeus pediram que fosse no Vaticano, pois lá é onde fica o representante de Deus na Terra. Muçulmanos queriam que fosse na Meca, mas como tudo no mundo, o americanos decidiram que fosse na Casa Branca.

Na hora marcada, uma luz muito brilhante veio descendo do céu e para no palco, se aproxima do trono de ouro e começa a se transformar e ganhar forma… de um bule. sim um bule. Com um headphone.

Falta um headphone, então imagine.

– Bom, estou aqui para, responder as perguntas dos, err… quem mesmo? Ah sim, terráqueos… Vocês tem cinco minutos. Cinco minutos terráqueos, claro, pois se fossem cinco minutos meus, vocês aqui virariam pó.

Mesmo com uma ordem pré estabelecida por sorteio, uma algazarra foi formada. Pessoas levantando a mão, gritando, pedindo o direito de pergunta. Deus estranhou tudo aquilo e escolheu um repórter chinês para a pergunta. Zho Cheng sorriu nervoso e se dirigiu ao púlpito, respirou fundo e perguntou:

– Por que a forma de bule santidade?

-Sério? Essa é a pergunta ? Você tem a oportunidade de me perguntar sobre tantas coisas, e quer saber o porquê da minha forma ? – Disse, irritado. – Assumi essa forma pois se fosse um velho, vocês achariam que eu seria o Deus judeu/cristão, se fosse negro, diriam que sou Alá e que o Jim Carey já me conhecia. Pra evitar a fadiga, escolhi um bule. Próxima pergunta !

-Qual a teoria está certa, a da evolução ou criação? – Perguntou uma autoridade inglesa.

-Teoria? Só um momento – Deus ficou em silêncio uns instantes e respondeu – Ah sim, bom eu não fui responsável direto, eu digamos “terceirizei” o serviço. Ô Javash, qual o método utilizado pra esse planeta aqui ? Ah sim, ok. Bom, nós utilizamos as duas técnicas. Próxima pergunta !

– Mas Senhor como… – repetiu o inglês.

-Três minutos !

-Para onde vamos depois de morrer? – Perguntou um brasileiro.

-Isso eu não posso contar, é algo que vocês só podem saber depois de morrer. É  algo inerente a toda criação e desenvolvimento de vocês como seres racionais. Próxima.

-Qual o sentido da vida ? Por que estamos aqui?- Disse o Paquistanês.

– E por que vocês precisam de um sentido ? – Deus disse irritado – Vocês tem um planeta pra cuidar e ficam se preocupando com algo que já foi explicado desde o começo, mas praticar é diferente não é ? Vocês são estranhos nesse sentido, acham que só o fato de existitirem merece uma explicação. Qual o motivo disso? Vocês já sabem qual o sentido, não sou eu que devo explicar. Achem sozinhos.

– Mas Senhor, existem no mínimo uns 1500 sentidos pra vida… – Retrucou o paquistanês.

-Acho que vocês são os seres mais carentes do universo. Me pedem ajuda pra passar em um teste de matemática, enquanto isso, a 500 anos luz daqui, uma galáxia está sendo destruída por um buraco negro em expansão, mas nenhum dos 3 trilhões de seres que moram pedem uma intervenção divina. Aprendam: Eu já fiz minha parte por vocês, não iria ficar aqui eternamente, só lhes dei o dom da vida, agora se virem. Destruam-se ou amem-se, é de vocês a escolha. Já tentei fazer vocês lutarem, se amarem, já destruí, já criei e agora é com vocês. Acreditem no seu potencial, e façam um favor. Me esqueçam! Não precisam me amar tanto e sim amar uns aos outros. Boa noite.

O bule ascendeu aos céus, e nunca mais foi visto.

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Carta de um suicida

“Escrevo essa carta na esperança de que você leia e não me julgue, afinal eu não preciso que mais pessoas apontem meus erros e me critiquem por minhas escolhas. Eu acerto e erro como todo o ser vivo que viveu, vive e viverá nesse imundo planeta. Eu desisto da minha vida pois não tenho esse instinto predatório e cínico que é preciso ter para viver nessa sociedade sórdida e maldita. Posso ser considerado fraco, inútil e a vergonha da família, sim, mas eu não sou hipócrita para sorrir apenas para parecer vivo. Termino com a minha vida pois não tenho saída, não tenho vontade  e não quero viver mais um dia de tristeza, solidão, medo e ódio. Só peço desculpas a minha mãe, apenas a ela. Ela fez de tudo que esteve ao seu alcance para me criar… Mas agora se decepcionará comigo mais uma vez… Desculpe mãe!”

Com os pés descalços ele sentia o frio do piso, que subia por suas pernas e atingia seu coração, que estava mais frio ainda. Leu e releu carta mais uma vez e a deixou em cima da tampa do assento do vaso sanitário e se encarou no espelho. Nesses últimas semanas suas olheiras e rugas aumentaram e muito, era estranho como o sofrimento mudava a aparência de alguém, algo que não é palpável e visível como um tumor, mas que cresce e prejudica tanto quanto. Suas lágrimas nem caiam mais, secaram como seu coração e alma que esvaíram-se do seu corpo a muito tempo. A decisão já foi tomada e não há volta, ele a manteria ao contrário de muitas outras.  Ele  agarrou o pote com os medicamentos tarja preta e engoliu umas 5 pílulas de uma vez, em seguida deitou-se na banheira com água quente e cortou seus pulsos e fechou os olhos, o agradável calor subiu e tomou conta de seu corpo, um relaxamento extremo como se estivesse deitado numa nuvem. O quente abraço da morte o alcançou e esperou sua hora.

 

Seu momento.

Mas ele nunca chegou.

Abriu os olhos e viu uma luz forte, esperou seus olhos se acostumarem e encontrou-se numa cama de hospital. O lençol tocava-o em cima e embaixo de seu corpo, o tecido leve e desagradável. Notou o cheiro de hospital, o cheiro característico de dor, sangue, substâncias químicas e morte, o doce cheiro que incomoda todos, que infiltra-se nas narinas e se espalha pelo corpo, causando a amarga sensação de sofrimento. O quarto era sóbrio e claro , com camas de metal e muitas estantes, que continham ampolas e diversos remédios com nomes complicados. Sua mãe estava ao seu lado, segurando sua mão e dormindo numa cadeira . Foi tudo repentino, mas notou que seu plano de se matar não deu certo. Estava vivo e bem.

Seria uma derrota ou uma vitória?

Antes de se decidir, suas pálpebras pesaram e seu corpo relaxou, o doce sono o aqueceu e o tirou daquela terra de dor e medo.

Acordou mas não abriu os olhos, o odor entrou em suas narinas primeiro, ouviu vozes, barulhos tilintantes de instrumentos metálicos, bips de máquinas e gemidos de dor. Ainda estava no hospital, notou o mesmo cheiro e a mesma sensação do outro despertar, mas dessa vez teve que se levantar. O dia já havia nascido e banhava de sol o seu quarto, forçou-se a olhar a janela e viu o céu num azul límpido, sem nuvens, um lindo dia.

 

-FILHO ! – Ouviu o grito de sua mãe, ela veio correndo e parou na sua frente. Ambos se encararam, uma amálgama de sentimentos passavam pelos olhos da sua mãe.Felicidade sim, era o principal, mas também havia tristeza, raiva, decepção e desespero naqueles olhos negros, negros e vermelhos, negros vermelhos e inchados como se ela tivesse chorado todas as lágrimas possíveis que uma mãe pode chorar pela apreensão da morte do filho. Seu cabelo era negro e estava desalinhado, já possuía os fios grisalhos que acusavam os seus 59 anos de idade. A pele desmentia a idade, era firme e lisa, com poucas rugas e num lindo tom de oliva. Jamais deveria ter passado pelo que passou, apenas a possibilidade de perder um filho era injusta para uma pessoa como ela, imagine então, ter um filho suicida.

-Mãe, por favor me perdoa. Eu não sou e nunca fui um bom filho pra você, o que eu fiz foi algo extremamente egoísta… Me perdoa por favor.

E ajoelhou-se diante dela,  lágrimas escorriam e o desespero de novo corroía seu coração. A dor era maior do que as cicatrizes e chagas deixadas pela tentativa de morte. Agarrou os joelhos dela como se fosse um tronco e ele estivesse num rio de forte correnteza.

-Não falaremos disso filho, agora não. Por favor. – Disse ela, secamente. Pôs as mãos nos ombros dele, deu um sorriso triste levantou-se e virou de costas. Ficou parada ali por uns instantes e disse. “- Estava procurando alguma coisa pra comer e recebi a noticia de que você tinha acordado, vim te ver… Bom agora vou procurar alguma coisa para nós comermos.” E saiu sem olhar pra trás.

Era óbvio que ela não estava bem. Estava desmoronando, já não bastasse todo o sofrimento do marido assassinado, 2 abortos e desempregada, ainda tinha um filho com tendências suicidas. Era demais para qualquer ser humano, mas ela é uma deusa, e deusas não podem se abalar.

“Seria melhor dar um tempo para ela, deixar ela sozinha, por enquanto” Pensou. Nesse momento começou a andar pelo corredor onde estava, notou que estava perto da maternidade.

Que Ironia.

 

Um suicida internado perto de onde a vida surge . Era tão ridículo que ele teve que rir, não podia ser coincidência, o médico que o tratou escolheu com certeza aquele quarto de propósito, por ser o mais próximo dos bebês. Aproximou-se lentamente da janela para ver os pequenos, por mais que odiasse crianças, elas agora exerciam um magnetismo nele, o chamavam silenciosamente… Convidando-o para ver a dádiva de recém nascidos.  Ele olhou pela janela e viu dezenas de pequenos seres chorando, dormindo, rindo, todos eles em pequenas caixas e enrolados em roupas azuis e rosas. Aqueles pequenos homens e mulheres, trazidos ao mundo para sonharem com astronautas e princesas, e acabarem como tatuadores ou Atendentes de telemarketing. Terem seus desejos esmagados pela sociedade vil, e não terem outra escolha a não ser engolir o o choro , abaixar a cabeça e seguir rumo a morte. Algo chamou a atenção, havia outra sala no fundo do berçário, que continham algumas outras caixas com bebês, caixas de vidro enormes, onde minúsculos bebês eram cercados por tubos e sondas, ligados a máquinas que os mantinham vivos.

Essa era a pior ironia de todas.

Da qual ele não teve coragem de rir.

Aqueles eram bebês prematuros, humanos que tinham tanta vontade de ver o mundo que nasceram antes do tempo e que agora lutavam pelo direito de vida. Algo que ele quis deliberadamente acabar, tão precioso para aquelas pequenas almas e ele descartou como algo fútil.

Sentiu o baque.

Atingiu-o como uma bola de canhão, bem no peito. Bum. E os ferimentos não jorravam sangue, e sim melancolia. A tristeza nunca o acertou como naquele instante, de repente tudo fazia sentido, mas ao mesmo todas as coisas não tinham absolutamente nenhum significado. Uma quantidade de sensações ruins preencheram seu corpo, virou-se e encostou na parede, sentindo o frio contra suas costas, ele foi desabando em amargura, tecendo lágrimas quentes e com o gosto do sal, o elemento que exorciza seus demônios. Não podia ficar ali, tinha que correr, não aguentaria nem mais um simples momento naquele hospital, era grande o peso do mundo e de suas péssimas decisões sobre seus ombros. O medo de viver batia a porta de seu coração, aquela angústia de que nunca nada ia dar certo ameaçava voltar à tona. Agarrando os joelhos e com a cabeça entre as pernas, queria que o mundo acabasse ali.

Mas não acabou.

Ele não acreditava em milagres, já tinha desistido de Deus e qualquer religião há muito tempo, mas bem em sua frente, estava um anjo.

Um anjo de luz.

Com feições tão belas como se fosse possível, o anjo possuía um sorriso branco como um colar de nuvens num céu de verão, maçãs do rosto vermelhas e salientes,  olhos negros e sorridentes, brilhantes e seu cabelo dourado como as portões do paraíso. O anjo se agachou e se aproximou, e nesse momento, ele se envolveu com a fragrância sagrada que o anjo transmitia.

Um cheiro de cigarro mentolado.

Nesse minimo instante, ele acordou do transe e viu a pessoa a sua frente. Não era um anjo, era apenas uma mulher. Com um sorriso triste ela o encarou:

-Eu falaria pra você não chorar, mas provavelmente você deve estar cheio de lhe falarem isso, então é melhor chorar. E tem que ser por um bom motivo.

-Acabo de ver como eu sou hipócrita e egoísta… Eu não mereço a vida.

-Talvez sim, talvez não. Nunca vai saber… Resta apenas viver e tentar aproveitar ao máximo que se pode. A vida não é um dom ou maldição, a vida é apenas o que é: a vida.

Ela tinha razão. Mesmo não sendo o anjo que ele viu da primeira vez, suas palavras eram arrebatadoras como se fossem proferidas por um enviado de Deus. Ele reparou em seu rosto, bonito, porém triste. Talvez  tivesse passado por muitas provações nas últimas semanas, como se um anjo tivesse lutado em uma guerra contra a própria morte.

-Venha, quero te mostrar uma coisa.

Ela agarrou sua mão e o levou para dentro do berçário, atravessou a sala até onde os bebês prematuros estavam. O levou até a frente de uma caixa, onde um dormia a sono profundo.

-Esse é meu filho. Lindo não?

Não sabia o que falar, o anjo era mãe de um bebê prematuro.

-Sim, lindo!

-Ele já me enche de orgulho. Mesmo sendo de uma gestação dificil, lutou fortemente contra todos os problemas que surgiram. Mesmo tendo que nascer antes do tempo, se agarrou a vida e nunca deixou ela sair perto dele. E foi recompensado com uma mãe que percebeu o quanto a vida é maravilhosa, e que vai fazer de tudo para ajudá-lo.

Ele sorriu, e percebeu o sinal. Seja de Deus, Buda ou do universo, ele entendeu o que precisava fazer.

Apenas lutar.

 

 

 

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Espelhos

Quem é você?

 

 

Olhamos e não enxergamos

Apenas olhamos e vemos

Tiramos fotos,  não lembramos

Apenas recordamos quando vemos

 

Acreditamos e aceitamos, cremos

Não contestamos, ou cansamos?

Não, nos entregamos.

E aqui encontramo-nos .

 

Apenas invejamos

E nos embelezamos

Só falsificamos

 

O belo nós mudamos

O incrível nós trocamos

E no fim, criticamos.

 

 

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Medo

Sr Euclides estava sentado em frente de sua humilde casa na Avenida São João, a duas quadras do Largo Paiçandu. Ele lia a Folha de São Paulo de 1987, sendo que o ano vigente era 2009, ele havia dito ao repórter do Jornal Cabreúva de que espera notícias boas e jurava que umas duas vezes, as noticias do Jornal mudaram. O repórter riu e mudou a legenda da matéria na TV de “personagens Clássicos de SP” para “O drama do Alzheimer”. Nosso velhinho aguardava a notícia que Paulo Maluf assumiria o comando do exército e daria um novo golpe militar, mudasse o nome do Brasil para Argentina do Norte  e aprovasse a Eugenia, mas para nosso alívio, tal notícia não veio,

Cansado de ver sua lindíssima avenida ser ocupada por nigerianos traficantes e somalis vendedores de relógios falsos, ele se retirou para a residência,  resolveu que e deveria arrumar a estante da sala que estava torta a cinco anos. Entrou no pequeno cômodo, pequeno,escuro e cheirando a mofo,  decoração estilo “Avant-Garde-Batman-Caverne” revistas velhas empilhadas no chão, um sofá vinho antiquíssimo e uma estante pênsil à esquerda com alguns exemplares da enciclopédia Barsa que serviam de calço a estante. Ele foi até a mala de ferramentas e pegou um martelo, cinco pregos e… e… o quê mesmo? O ancião havia esquecido o quarto elemento para concertar a estante, mas como eu sou um autor benevolente instaurei uma lembrança de um pedaço de madeira que iria servir como o pé da estante. O velho anda até o quintal atrás de sua micro casa e encontra o pé da estante, parado e esperando seu destino. Estante. Pé.

Mas um detalhe não passou despercebido por Eucli, um detalhe que faz toda a diferença.

Uma panela de pressão.

“A” panela de pressão.

O seu maior medo.

Aquela panela estava presente na morte de sua esposa Vera, estava presente no dia que seu filho Iraquetan partiu para a Guerra do Sultanato de Papua Nova Guiné e na morte de seu cão fantasma, Rufus Sétimo. Cada desgraça, cada coisa ruim, sempre que alguma coisa acontecia, ela estava lá. Encarando-o, e com certeza rindo da desgraça de Euclides. Por três poportunidades ele a havia jogado fora, três vezes ela havia voltado.

Ele rodeou a panela, para se aproximar e tentar pega-lá de surpresa tropeçou no velho trombone de prata que jazia ali a anos. O barulho despertou a P.P (Panela de pressão, chamarei-a assim devido a preguiça). P.P levitou no ar e começou a juntar peças que estavam jogadas no quintal revistas, entulhos, sacos de lixos e uma força invisivel conectou todos os lixos a PP(inclusive o trombone), transformando-a numa espécie de golem.

Era chegada a hora Euclides.

Ele pronunciou as cinco palavras proibidas e  evocou o Dragão Branco de Olhos Azuis. Eis que surge um dragão branco de 5 metros de altura na sua frente, deu um rugido ensurdecedor e esticou suas asas com uma enorme envergadura.

O Golem invocou Agumon-Vegeta. Um Dragão de Komodo amarelo de cinco metros de altura, mas com o rosto humano

-Dragão, Choque do Trovão ! – Disse Euclides

O Monstro emitiu de sua boca um relâmpago azul.

-Agumon, ataque com Leigun ! – Ordenou o Golem

Disparou de sua mão um pilar de energia branca.

Ambos poderes se chocaram com uma força megalomaníaca, Sr. Euclides foi arremessado com muita força no chão. Mas ele viu as ondas de energia lutando, enrolando, embatendo. Fagulhas azuis e brancas voavam dos poderes, atingindo o chão e criando crateras to tamanho de toranjas. mas o Leigun venceu o embate.

O Dragão de Olhos Azuis a.k.a Epaminondas recebeu o golpe, mas manteve-se de pé e dessa vez atacou sem receber a ordem de Euclides, usou o golpe Fus-Ro-Dah de Fogo.  O Golem, desesperado, não soube o que fazer e Agumon-Vegeta recebeu o golpe, que foi !00% efetivo.

-Você combate bem, P.P- Disse o velho.

-Cale-se, e dê seu último golpe !

-Epaminondas, golpe Tesouro de Mirra!

-Agumon, atinga-o com Entardecer em Acapulco !

Era uma luta sem igual, poderes disputando polegada por polegada o espaço para atingir seu inimigo, uma amalgama de cores se fundindo e separando-se a cada milissegundo, porém dessa vez a disparidade era grande e o mais forte obliterou o mais fraco.

O poder definitivo.

O monstro caiu no chão desacordado.

Fim

Euclides abriu os olhos e estava deitado numa cama de hospital, dentro de um quarto totalmente branco. Uma enfermeira ruiva de meia idade e com olheiras  encarou e bufou, pegou uma injeção de uma mesa a sua esquerda e aplicou no braço de Euclides.

Euclides fechou os olhos e sonhou que era um vaga-lume co uma bazuca.

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Pessoas

Imagino daqui a 60 anos.

Como será apresentar nossos álbum de fotos aos nossos netos.

-Venha cá Odranuel, veja minhas fotos de quando eu era jovem!

SELFIE, SELFIE, SELFIE, SELFIE, BALADA COM SELFIE, BALADA COM LENTE OLHO DE PEIXE, SELFIE, SELFIE, SELFIE, COMIDA, COMIDA, COMIDA, COMIDA, SELFIE, SELFIE, SELFIE.

-Legal, vó!

Neto sai correndo, rindo, rindo…

 

 

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Eu te conheço?

Você pode respirar embaixo d’água?

você suporta a dor da morte?

Você já caiu no poço do mundo?

Chorou a partida de um amor?

Acreditou no diabo?

Acreditou em Deus?

Nenhuma.

Quem é vocÊ?

Quem é você?

 

Eu sei quem você é… sei que observa os padrões da vida que rolam 24 horas por dia. E veja, você sabe que as pessoas são todas desesperadas por serem reconhecidas, que fazem coisas impossíveis por uns “Curtir”, afinal você também era assim. Tinha uma opinião formada sobre ABSOLUTAMENTE qualquer coisa, gostava de interagir com todos, queria que olhassem pra você e pensassem: “Porra, esse é o cara!”…

Só que nada disso aconteceu.

Nada.

Tudo que você fazia, e implorava, virava vento para aquelas pessoas.

Pessoas.

Olha, sinto te informar, mas como podem ser pessoas, se você nunca esteve com elas?

Todas aquelas festas, tatuagens, animais, poses, bebidas… Como aquilo pode ser real? Você viu? Tocou?

E você simplesmente sorri e vê que aquilo era uma corrente, não uma corrente… hum… melhor um ciclo.

Você–>Subfamosos<–>Superfamosos

No qual você nunca estava.

Acordou, e se tocou que aquilo era um pantomina, uma linda volta de lambeção de cú, no qual eles se lambem, e você se masturba, MAS NÃO TOQUE, SEU PERVERTIDO.

Você agora é morno, médio… um 50%. Não quer se destacar, afinal se destacar não significa nada, pois uma bosta florescente no meio da merda, continua sendo merda. Apenas vê a matilha passar, eles se esgoelando por coisas que eram tudo pra você, e hoje não passam de vento.

Você é o vento.

Ou água.

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Ambíguo

É difícil pensar sabe? Pensar, Pensar e não agir. Esperar uma luz verde dizendo “vai”. Queria que minha emoção tomasse conta, desse um tiro na razão e ligasse o “foda-se”. Mesmo que eu me machucasse no processo, deveria tentar. É foda ser racional, tenho inveja dos empíricos.

Odeio ser assim. Nunca penso no que vou fazer, sempre faço e depois penso. Sempre me ferro. Faço tudo o que tenho vontade, sem me preocupar com os outros ao meu redor e principalmente sem me preocupar comigo, com as conseqüências que vão vir. É foda ser empírico, queria ser racional.

Choose your side and FIGHT

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Feelings

Indiferença entre a dor e a felicidade

Entre o amor e o ódio

Não seria melhor sentir algo, seja bom ou ruim ? Lágrimas de quem você gosta e sorrisos de quem você ama não te fazem diferença. Estranho todos ama e odeiam e você fica indiferente a tudo. Ás vezes seria bom sentir. Amor, ódio o quer for, não adianta se esconder atrás de um sorriso fosco. Seu único sentimento é medo, medo de sentir aquilo de novo, a intensidade do amor e em seguida a raiva e decepção de não dar certo. Esqueça os detalhes. Não tente encontrar você em outra pessoa, você é único. Encontre alguém que tenha algo novo algo a acrescentar, mude seus conceitos. Explore sua alma.

 

Publicado em Quarta-feira, junho 1 2011 via Tumblr.

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